Meu pai não mora mais aqui
A primeira edição do livro "Meu pai não mora mais aqui", escrita pelo gaúcho Caio Riter, foi publicada em 2008, pela Editora Biruta. O livro foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2009, na categoria Literatura Juvenil. Dez anos depois, o projeto passou por uma revisão para sua reimpressão.
A HISTÓRIA
O livro conta a história de dois jovens, Tadeu e Letícia, que precisam escrever um diário como parte de uma tarefa dada pela professora de Língua Portuguesa. A ideia, a princípio, desagrada a ambos, mas com o passar do tempo, eles enxergam naquilo a possibilidade de expressar seus medos e aflições e de conhecer melhor a si mesmos.
Com design de capa e miolo feitos pela Casa Rex e ilustrações de Gustavo Piqueira e Samia Jacintho, o livro fazia parte da coleção "Leituras Descoladas", voltada ao público juvenil, junto com outros cinco livros também de projeto da Casa Rex. As imagens em seguida mostram a capa e os primeiros spreads de páginas dessa 1ª edição.
MEU PAPEL
Em 2018, o livro precisava ser impresso novamente, e a editora viu a necessidade de modificar o projeto. O original apresentava soluções que, apesar de enriquecerem o livro como objeto, também significavam custos muito altos de impressão e produção. Sendo assim, meu papel como designer foi o de propor uma nova edição, mais econômica, mas que ainda mantivesse os padrões de projeto gráfico da editora e que permitisse uma leitura instigante.
O PROJETO ANTIGO
Produzido no formato 16 x 23 cm, a edição de 2008 de "Meu pai não mora mais aqui" possuía orelhas de 10 centímetros na 1ª e 4ª capas, 200 páginas de miolo e utilizava impressão com cores Pantone™ tanto nas capas (internas e externas) quanto no miolo. Diversas páginas não traziam texto, e eram usadas para mostrar as ilustrações, resultado da edição de fotografias e da exploração do contraste entre o preto e a cor Pantone selecionada para o projeto (Pantone 139C). O diário de Tadeu trazia as folhas com fundo colorido (o mesmo Pantone aplicado com transparência de 60%), e as folhas do diário de Letícia eram brancas; esse elemento conferia identidade e particularidade para cada diário e permitia ao leitor rapidamente compreender sobre quem estava lendo.
NOVA SOLUÇÃO
Propus diminuir o formato do livro para 14 x 21 cm, e omitir todas as páginas que não tivessem texto corrido. Assim, foi possível reduzir não só o uso de papel no projeto, como também a paginação final do livro, que passou a ser de apenas 184 páginas. Mantive a presença de orelhas, que julguei importantes por se tratar de um livro para o público juvenil, mas diminui seu tamanho, para 8 cm.
O miolo teve de ser feito em 1 x 1 (Black) apenas, e a solução de diferenciar cada diário por seu esquema de cores, como era feito no projeto antigo, foi abandonada. Ao invés disso, sugeri que cada jovem tivesse seu texto escrito em uma fonte diferente, que pudesse transmitir sua identidade e sua individualidade. O diário de Letícia, na narrativa escrito a mão pela personagem, foi diagramado em Garamond, uma fonte serifada, delicada e elegante, e o de Tadeu, redigido pelo garoto no computador, foi feito em Bitter, uma fonte de serifa grossa, mais espessa e robusta.
Os títulos e numeração de cada diário também exploravam essas diferenças tipográficas, alternando entre texto grifado e sublinhado, e contribuíam para a diferenciação de cada personagem. Pequenas inserções gráficas foram feitas em momentos-chave para a narrativa.
Os únicos elementos de cor seriam possíveis apenas nas capas internas e externas, e decidi explorar isso fazendo uso de texturas que reforçassem o caráter da narrativa de livro-diário, mas também a abrupta ruptura que surge na vida de um deles e que acaba espalhando-se na narrativa e tornando-se o ponto de inflexão do livro e da relação entre os dois jovens. Assim, propus uma solução com uma tipografia centralizada, mas irregular, e elementos que mostrassem diferentes camadas e rasgos, representando as rupturas e mudanças pelas quais passam os personagens do livro.
A pedido de minhas editoras, reservei um espaço na 1ª capa para indicar os prêmios recebidos pelo livro, pois enxergamos nisso uma possibilidade de aumentar seu atrativo para o público.
PRODUÇÃO
O livro foi produzido em papel offset, 90g/m², pela Impressul Indústria Gráfica, em janeiro de 2019. Parte da minha função foi a de acompanhar a produção. Durante a pré-impressão, verifiquei a possibilidade de encaixe de marcadores na impressão da capa, o que foi feito.
Os custos de produção, conforme o objetivo, foram reduzidos em relação ao projeto anterior, custando algo em torno de 40% menos para ser produzido nos dias de hoje. O projeto foi avaliado, após sua conclusão, como extremamente satisfatório e cumprindo sua proposta, recebendo feedbacks muito positivos de leitores.